Sustentabilidade Interna

No outro dia li uma publicação aqui no LinkedIn que me fez reflectir um pouco sobre este termo: Sustentabilidade. A publicação falava de alguém que tinha decidido voltar a ir de bicicleta para o trabalho, apesar da distância e o percurso ser mais difícil, mas que essa decisão acabou por lhe trazer benefícios pessoais (saúde física e mental) e que dessa forma contribui para uma utilização mais sustentável dos recursos do planeta.

Se consultarmos o dicionário encontramos que sustentável é o que se pode sustentar, que se pode defender, que tem condições para se manter ou conservar. Hoje em dia a ideia subjacente a este termo está mais relacionada com o último conceito, muito por culpa da urgência de manter e conservar o nosso habitat – o planeta Terra. É claro que é necessário acontecer uma mudança grande de hábitos, de costumes e mesmo de culturas para que o nosso modo de vida se torne sustentável a médio/longo prazo.

Mas como todas as grandes mudanças, estas trazem com elas, resistências, medos, dificuldades, ansiedades, stress. Para conseguirmos levar por diante esta mudança é necessário iniciar por pequenas mudanças. A nível planetário, cada um de nós, representa uma pequena mudança. Se cada um, repensar um pouco a sua vida para a tornar sustentável, e não apenas no sentido material, aí sim, iremos conseguir atingir essa grande mudança.

O que fazer então para nos tornarmos sustentáveis? Primeiro temos que aceitar que somos UM SER, e não um corpo + uma mente. O que quero dizer com isto? Ao longo da história da Humanidade foram criados grandes crenças de que existe o corpo, e existe a mente, ou a alma. E que de certa forma as podemos separar, uma pode perdoar à outra os seus “pecados”.

Ao mudarmos a forma como encaramos o nosso SER, o corpo = mente = alma, temos que começar a aceitar que somos aquilo que fazemos, que o nosso corpo é o que alimenta a existência da mente. Então para sermos sustentáveis neste sentido, é preciso compreender o que realmente necessitamos para alimentar o corpo e a mente, para que possamos ter uma vida como a desejamos.

Pensemos por exemplo na alimentação, comemos por muitas razões. A mais imediata, claro, a da sobrevivência, aqui a mente satisfaz-se com o que estiver disponível, porque sabe que o corpo precisa do quer que seja para funcionar. Depois, com as condições de abundância e variedade a melhorarem, a mente começa a escolher o que considera melhor para optimizar o funcionamento do corpo (seja para ter mais força, protecção, ou para armazenar para dias mais difíceis). Surge então a parte social, o sentido de pertença a um grupo, em que se partilha, a sedução a manifestação de amizade através da oferta de alimentos. Aqui a mente tem uma escolha clara sobre o que dá ao corpo, quer por querer aceitar a oferta do grupo, do parceiro, ou para influenciar positivamente a relação.

A partir deste patamar, o ser Humano criou um conjunto de factores para influenciar a decisão da mente em relação às escolhas a tomar sobre a alimentação. Iniciaram-se talvez pela vontade de impor respeito, estima, mesmo para solucionar problemas de saúde e longevidade, mas também foram aproveitadas para “alimentar” a mente egocêntrica (consumo apenas pelo lucro), e aqui perde-se a sustentabilidade do ciclo de alimentação.

Esta “fome” da nossa mente é como a fome do nosso corpo, não acaba. Tal como o corpo que está em constante funcionamento (o coração, pulmões, etc..), também a nossa mente não para. Pode ter ritmos mais acelerados, ou mais tranquilos, mas não para. O que é então necessário para manter a sustentabilidade e satisfazer esta fome recorrente?

A mente, tal como o corpo, pode consumir diversos tipos de alimentos, uns mais sustentáveis, outros menos. O conceito criado a partir da industrialização de que temos que nos apressar (a produzir, a comer, para voltar a trabalhar) para podermos mais tarde, às vezes nunca, usufruir do tempo de lazer, está a destruir esta sustentabilidade. Este paradigma tem que mudar.

A nossa mente alimenta-se do nosso trabalho, das nossas realizações, de desafios, da criatividade, e sabe que o resto do corpo é a base para as poder viver. A medida certa do tempo que dedicamos às actividades que nos alimentam (o corpo inteiro) é o equilíbrio que é necessário atingir. Criar esta sustentabilidade interna é o primeiro passo em direcção à sustentabilidade global.

“sustentável”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/sustent%C3%A1vel [consultado em 11-11-2020].

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